Transporte por app: precarização da profissão é pauta da Tribuna Popular

 Transporte por app: precarização da profissão é pauta da Tribuna Popular

Segundo Gessé de Souza, “é uma categoria jovem, pobre, de baixa proteção social e totalmente dependente da renda por corrida”

Foto: Lucas S. Costa

O representante do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras por Aplicativos do Espírito Santo (Sintappes) Gessé Gomes de Souza Júnior utilizou a Tribuna Popular da sessão desta quarta-feira (3) para apresentar dados, desafios e reivindicações da categoria. Ele participou a convite da deputada Camila Valadão (Psol).

Gessé iniciou sua fala lembrando que o Sintappes completa seis anos de atuação no próximo sábado (6) e destacou as dificuldades enfrentadas para dar visibilidade à realidade dos trabalhadores. Segundo ele, a categoria reúne aproximadamente 1,6 milhão de pessoas no país, com crescimento de 25,4% nos últimos dois anos, conforme dados do IBGE.

Perfil e vulnerabilidades da categoria

O representante descreveu o perfil predominante dos trabalhadores por aplicativo: 81,3% são homens; 60,5% têm até 39 anos; 56% são pessoas pardas ou pretas; 59,3% possuem ensino médio completo ou superior incompleto; 74,3% dos motoristas e 78,4% dos entregadores não contribuem para a Previdência. “É uma categoria jovem, pobre, racializada, de baixa proteção social e totalmente dependente da renda por corrida”, afirmou.

Segundo ele, mais de 70% dos trabalhadores não têm autonomia para definir tarifas, prazos ou formas de pagamento. Há casos de motoristas que recebem apenas R$ 5,85 por corrida, enquanto plataformas cobram valores maiores dos usuários. “Por isso defendemos a tarifa mínima de R$ 10 para todos os serviços”, enfatizou.

Renda menor, jornadas maiores e mais riscos

Gessé destacou que o crescimento do setor veio acompanhado de aumento da precarização. Ele citou dados segundo os quais trabalhadores “plataformizados” recebem 8,3% menos por hora do que os demais e trabalham cinco horas e meia a mais por semana. “Mais trabalho, menos renda e mais risco. Quando o ganho cai, o risco sobe. A tarifa mínima de R$ 10 interrompe esse ciclo de precarização e morte”, disse.

Ele relacionou tarifas muito baixas ao aumento de acidentes, ao uso intensivo de energéticos para manter longas jornadas e ao congestionamento gerado pela alta circulação de motociclistas e motoristas que precisam compensar a baixa remuneração com mais corridas.

Pontos de apoio

Gessé também defendeu a criação de pontos de apoio para os trabalhadores, com banheiros, áreas de descanso e estrutura mínima. Ele lembrou que essa demanda já havia sido levada à Prefeitura de Vitória e destacou a iniciativa do deputado Coronel Weliton (PRD) em propor indicações relacionadas ao tema.

“Ponto de apoio não é necessidade do trabalhador por aplicativo. É necessidade da sociedade. A qualquer momento, qualquer pessoa pode sofrer uma limitação fisiológica. É inconcebível uma cidade sem sanitários públicos adequados”, afirmou.

A deputada Camila Valadão (Psol) destacou três pontos centrais da fala de Gessé: a necessidade de uma tarifa mínima que garanta dignidade; medidas de segurança pública para reduzir vulnerabilidades; e políticas de segurança viária para proteger trabalhadores e motoristas no trânsito.

A parlamentar criticou a ausência de pontos de apoio para entregadores e motoristas em bairros de grande fluxo em Vitória, como Jardim da Penha, Maria Ortiz, Grande Goiabeiras, Praia do Canto e Centro. “É inconcebível que uma capital rica não garanta nenhum ponto de apoio. Trabalhadores descansam em praças, dependem de estabelecimentos comerciais para usar o banheiro. Isso é indigno”, afirmou.

Ela também ressaltou a necessidade de regulamentação nacional do trabalho por aplicativo. “O país precisa estabelecer mecanismos de controle, dignidade e condições para esses trabalhadores. Esse trabalho precarizado tem um perfil, tem um rosto — e ele foi muito bem mostrado aqui. Estamos à disposição para seguir nesse diálogo”, disse.

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