Tribuna Popular alerta para consequências do bullying

Mãe de adolescente vítima de bullying cobrou medidas para enfrentar problema que pode afetar autoestima de jovens e levar à depressão e suicídio
“A saúde mental grita por socorro entre alunos das escolas capixabas.” O alerta foi feito no Plenário da Assembleia Legislativa (Ales) nesta segunda-feira (4) durante o uso da Tribuna Popular pela enfermeira Ludmila Bastos Moreira, que cobrou do poder público a instituição de políticas voltadas para a prevenção de suicídios motivados por bullying no ambiente escolar.
Ludmila relatou estar participando de um movimento no estado na luta pela prevenção do suicídio entre jovens estudantes depois que uma de suas filhas tentou tirar a própria vida por sofrer bullying na escola.
A adolescente, conforme disse, era comunicativa, fazia balé e aulas de canto, mas começou a se sentir rejeitada entre os colegas estudantes aos 13 anos, já que era discriminada pelo fato de ser muito magra e o pai ser obeso.
“Depois de meses de sofrimento ela não queria ir mais para escola, parou com as atividades de balé e de canto, e se isolou dentro de casa. Passou a manifestar agressividade e se afastou do pai”, contou.
Segundo Ludmila, após a tentativa a menina foi internada. Com ajuda terapêutica, conseguiu recuperar a saúde e tentou retomar as atividades escolares, mas o bullying dos colegas ressurgiu em menos de 1 hora de aula e a crise de ansiedade voltou. “Precisamos buscá-la na escola repetidas vezes, até que, num entendimento com o psiquiatra, decidimos retirá-la do ambiente escolar”, detalhou.
Fotos dos trabalhos em plenário
Associação
Ludmila disse que devido à situação enfrentada pela filha acabou conhecendo outras mães que também enfrentam problemas de depressão e tentativas de suicídio de filhos motivados por bullying em ambiente escolar.
Em função disso, está sendo criada a Associação de Mães de Adolescentes com Depressão e Ansiedade (Amada), entidade que na prática já está funcionando, mas ainda precisa finalizar a constituição jurídica. Os contatos para fazer parte da amada podem ser feitos pelo Instagram por meio do perfil @amadacachoeiro.
“São muitos casos muito tristes que acabei tomando conhecimento, entre eles o de uma mãe de aluna que estudava na mesma sala da minha filha, mas a menina tentou se matar oito vezes”, relatou.
Conforme Ludmila, nesse caso o bullying decorria do fato de a estudante ser obesa. Por causa da ansiedade ela acabou, segundo Ludmila, desenvolvendo bulimia e anorexia, teve os rins paralisados e precisou de hemodiálise, além de ter sido entubada.
Os pais dessa menina tiveram que acionar o Ministério Público porque não dispõem de condições financeiras para pagar internação psiquiátrica e tratamento psicológico.
“Muitas famílias não são carentes e precisam dessa assistência na rede pública, não só em Cachoeiro de Itapemirim, mas na maioria das cidades brasileiras”, frisou Ludmila.
O deputado Dr. Bruno Resende (União), médico e autor do requerimento para a fala de Ludmila na Tribuna Popular, alertou que o problema de depressão entre crianças e adolescentes é muito grave, mas passa despercebido por ser uma “epidemia silenciosa”.
“Quando alguém tem câncer, diabetes, doença coronariana todo mundo sabe devido aos sintomas mais nítidos; mas a depressão é algo que às vezes está dentro da casa da gente e a gente não percebe”, afirmou ao garantir apoio na luta pela criação de programa de prevenção a suicídios de alunos motivados por bullying nas escolas.
Dados
Citando números do CVV (Centro de Valorização da Vida), Ludmila apontou que a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio no mundo e a cada três segundo alguém atenta contra a própria vida. Por ano, cerca de 1 milhão de pessoas suicidam no mundo. No Brasil a cada 40 minutos uma pessoa morre por essa razão.
Ela citou, ainda, com base em informações da Secretaria Municipal de Saúde de Cachoeiro de Itapemirim, que em 2020 houve 136 tentativas de suicídio na cidade; esses números em 2021 chegaram a 200; em 2022, 301 pessoas tentaram tirar a própria vida em Cachoeiro; já este ano, até o mês de julho, fora 428 tentativas, o que demonstra aumento considerável nas notificações.
“O Brasil é classificado como o primeiro no ranking mundial de ansiedade, o terceiro em depressão, o quinto em transtornos mentais e o oitavo em suicídio”, acrescentou.
Defesa pessoal
A temática relativa ao ambiente escolar esteve presente também na fala do mestre em defesa pessoal Diego Tommy. Ele divulgou cursos que ministra na área de defesa pessoal contra ataques em escolas. Algumas técnicas ensinadas por ele foram expostas em slides no painel do Plenário.
Questionado pelo deputado Coronel Weliton (PTB), Diego concordou que aulas com essa temática deveriam constar da grade curricular, uma vez que invasões a escolas não são mais fatos raros no país. “Talvez na própria atividade de educação física seja interessante inserir esse tipo de conteúdo; ou então as secretarias de educação criarem uma aula específica sobre defesa pessoal em ambiente escolar”, defendeu.
Jovens no campo
Outro tema abordado na Tribuna Popular foi relacionado às novas gerações do agronegócio familiar. Formada em técnicas agrícolas, Andressa Vieira de Souza, do município de Iúna, disse que os pais e avós dos jovens que gostam de lidar com a terra precisam acreditar mais nas gerações que estão surgindo.
Para a convidada, há um problema “grave” no campo uma vez que filhos de agricultores e pecuaristas que saem para estudar na área do agro muitas vezes não têm oportunidade de ajudar os pais a gerenciar os negócios da família.
“Eu mesma quando me formei no curso técnico na área do agro não tive oportunidade na fazenda do meu pai. Ele preferia contratar gente de fora do que dar uma oportunidade de eu mesma empregar meus conhecimentos no negócio que era da minha família”, relatou.
Segundo Andressa, cerca de 60% das pessoas envolvidas em atividades do agronegócio são técnicos e engenheiros agrônomos com idade entre 20 e 29 anos, mas muitos são do Espírito Santo por falta de oportunidade em negócios dos próprios pais.
“É preciso que algo seja feito, talvez um programa governamental, no sentido de abrir a mente dos pais desses jovens no sentido de acreditarem mais numa força muito grande que eles têm dentro da própria família, que são os conhecimentos obtidos pelos filhos na área do agro”, apelou.
Coronel Weliton, autor do requerimento para a fala de Andressa, considerou que além da valorização dos pais que já têm filhos formados em áreas ligadas ao agro, os jovens herdeiros de negócios do campo precisam também de acesso a tecnologia para continuarem na área..
Entre as medidas ele citou a necessidade de instalação de mais torres de telefonia e de sinais de celular. “Sem acesso à internet não tem como avançar no agronegócio, já que muitos cursos são oferecidos de forma on-line, além de pesquisas relativas a vastos conhecimentos na área”, completou.
Houve ainda uso da Tribuna Popular pelo delegado aposentado Custódio Serrati Castellan. Convidado do deputado Delegado Danilo Bahiense (PL), ele fez um resgate da história da Polícia Civil no país e no Espírito Santo desde a chegada da Família Real ao Brasil até os dias atuais.