Postos sob investigação: o combustível que queima é o da paciência do consumidor

Quando o consumidor abastece o carro, ele confia. Confia que o que entra no tanque é gasolina, e não enganação. Que o preço, embora salgado, ao menos venha com um mínimo de ética. Mas mais uma vez, uma operação conjunta precisou mostrar o que muitos já suspeitam: tem posto vendendo ilusão no lugar de combustível.
Na última terça-feira, oito bicos de abastecimento foram interditados em Vila Velha, e um posto foi autuado por maquiagem de identidade visual – uma espécie de disfarce corporativo para parecer “de confiança”. Tudo isso após denúncias feitas à Comissão de Defesa do Consumidor da Ales, que agora, em parceria com o Procon e a Polícia Civil, busca não só punir os culpados, mas frear a escalada da esperteza sobre o direito do consumidor.
Entre os problemas encontrados: bombas pingando, gasolina comum fantasiada de aditivada, equipamentos irregulares e ausência do medidor de qualidade – aquele detalhe que separa o combustível da fraude. Para completar o cenário, um posto em Cariacica se passava por bandeira famosa sem qualquer vínculo real. Um truque? Sim. Um crime? Também.
O delegado Eduardo Passamani foi claro: o consumidor é o melhor fiscal. Mas é justo jogar essa responsabilidade sobre quem já é a parte vulnerável da equação? O cidadão precisa dirigir, abastecer e ainda ter faro investigativo para detectar golpes na bomba?
O diretor do Procon, Fabrício Pancotto, reforçou que há acordo com a ANP e que a fiscalização é técnica. Que bom. Mas, se o Estado precisa lembrar que “está de olho”, é porque tem muita empresa acreditando que ninguém está. E, no meio disso tudo, o que resta ao motorista comum? Guardar nota fiscal, denunciar, e esperar que pelo menos o carro ande com aquilo que ele pagou para andar.
Essa foi a segunda operação da semana. Antes, carne vencida e sabão em pó falsificado. Um panorama que dá náusea. No Espírito Santo, o que mais parece estar vencido é o limite da paciência da população. Porque enquanto o consumidor segue levando golpe, quem lucra com a desonestidade segue acelerando. Sem freio, sem pudor, e – até agora – com muito pouca consequência.
Mas talvez o jogo esteja virando. A pergunta é: essa blitz vai continuar ou foi só um pit stop midiático? Se o combustível da fiscalização acabar, quem vai pagar a conta, mais uma vez, é quem só queria encher o tanque e seguir viagem.