Marina Silva, alvo de desrespeito por ser mulher, reafirma sua inteligência e preparo frente aos ataques

A recente audiência da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, na Comissão de Infraestrutura do Senado, expôs mais uma vez como o machismo estrutural atravessa a política brasileira. Marina não foi desrespeitada apenas como autoridade pública, mas como mulher, enfrentando falas misóginas que escancararam a resistência em reconhecer sua inteligência, sua capacidade técnica e sua trajetória.
Ao ouvir de um senador que “a mulher merece respeito, a ministra não”, Marina reagiu com a dignidade de quem sabe o peso de sua história: exigiu desculpas, não as recebeu, e se retirou da audiência. Este não foi um episódio isolado, mas a continuidade de uma postura política que não aceita uma mulher altamente qualificada e internacionalmente reconhecida ocupando espaço de poder, especialmente em um ministério que mexe com interesses econômicos profundos.
Marina, bióloga, ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente em outros governos, tem uma trajetória reconhecida mundialmente pela sua atuação ambiental e humanitária. Sua inteligência estratégica e capacidade de articular questões complexas são superiores às de muitos dos que a atacaram naquela audiência. O desrespeito sofrido por ela evidencia que, mesmo com competência indiscutível, uma mulher ainda precisa provar, mais de uma vez, o que homens no mesmo espaço têm como pressuposto.
Não foi a ministra que foi desrespeitada. Foi a mulher. Não por falta de preparo ou conhecimento, mas porque ainda se insiste em não aceitar mulheres ocupando posições de comando com firmeza, autoridade e legitimidade.
O que foi tratado na audiência:
Marina Silva compareceu à Comissão de Infraestrutura (CI) do Senado para falar sobre a criação de unidades de conservação marinha no Norte do país, especificamente no Amapá. O debate girou em torno do temor de que tais áreas protegidas inviabilizassem a prospecção e exploração de petróleo na Margem Equatorial.
Durante a audiência, a ministra esclareceu que a criação dessas unidades não impede a pesquisa nem a exploração de petróleo em águas profundas, desde que respeitado o licenciamento ambiental. Ressaltou que o processo de criação dessas unidades começou ainda em 2005, com ampla participação social e estatal, visando proteger cerca de 24 mil pessoas de comunidades tradicionais.
A ministra também explicou que mais de 1.250 licenças ambientais já foram concedidas entre 2023 e 2025, sendo que mais da metade para a Petrobras, evidenciando que o Ministério do Meio Ambiente não atua com radicalismo, mas com base em critérios técnicos e científicos.
Outro tema foi a polêmica pavimentação da BR-319 (Manaus-Porto Velho). Marina refutou acusações de estar “atrapalhando o desenvolvimento”, argumentando que sua atuação visa garantir uma governança ambiental estratégica, em uma região que já sofre com desmatamento e grilagem.
Sobre os índices de desmatamento, Marina apresentou dados oficiais do INPE e do MapBiomas, mostrando uma queda de 32% no Brasil e 46% na Amazônia, ressaltando que a política ambiental busca zerar o desmatamento, com foco na restauração de áreas degradadas.
Marina Silva mostrou, mais uma vez, sua competência, sua seriedade e sua força política, enfrentando não apenas desafios técnicos, mas também a violência simbólica que se dirige às mulheres que ousam ocupar os espaços que lhes são de direito.
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado