Trump dá o bote: Senado brasileiro reage, mas quem vai segurar o prejuízo?

 Trump dá o bote: Senado brasileiro reage, mas quem vai segurar o prejuízo?

A decisão de Donald Trump de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros não é só um movimento geopolítico — é um tapa na cara da diplomacia brasileira. Um tapa sonoro, e em público. E a pergunta que ecoa no Senado e nas ruas é: quem vai pagar essa conta?

O Senado Federal, em sua pluralidade previsível, reagiu com discursos que variaram entre o nacionalismo inflamado e a acusação desidratada. O líder do governo, Randolfe Rodrigues, evocou a “união nacional” e a velha retórica de que “não há dois lados” quando a pátria é atacada. É bonito no papel — mas será suficiente diante de um tarifaço sem precedentes?

A reação do presidente da CRE, Nelsinho Trad, apelando à “diplomacia técnica”, soa quase ingênua frente à truculência da decisão americana. A realpolitik de Trump não dá espaço para afagos institucionais — ele joga com interesses e força bruta. O Brasil respondeu com notas de repúdio, missões parlamentares e esperanças em diálogos. É a velha fórmula da paciência diplomática enfrentando um reality show bélico.

Enquanto isso, a oposição grita “Lula culpado!” com o vigor de quem encontrou um prato quente depois de um jejum estratégico. Rogério Marinho, Ciro Nogueira e Hamilton Mourão desfilaram uma lista de episódios para mostrar que o governo brasileiro “provocou o leão” com declarações desafinadas, recepção a navios iranianos e até comparações infelizes envolvendo Trump. E convenhamos: Lula tem acumulado atritos desnecessários — muitos deles com gosto.

Por outro lado, a narrativa de que a atual crise é obra exclusiva do governo Lula ignora um fato incômodo: a relação de subserviência constrangedora do bolsonarismo a Trump não acabou em 2022. Pelo contrário, ela parece ter sido reativada a pedido, como sugerem declarações inflamadas de Jaques Wagner e Fabiano Contarato. Há cheiro de articulação transnacional — e isso, se comprovado, é grave.

Enquanto os senadores trocam farpas e discursos, os produtores rurais, industriais e exportadores brasileiros se preparam para o impacto real: prejuízo. Produtos mais caros, margens esmagadas e competitividade comprometida. É como entrar num ringue com as mãos amarradas.

A Lei da Reciprocidade foi lembrada por Renan Calheiros como ferramenta de retaliação. Mas será que temos estofo para retaliar economicamente os Estados Unidos? Ou estamos apenas reagindo com um estilingue a um míssil?

No meio disso tudo, sobra pouco espaço para o que realmente importa: proteger o trabalhador brasileiro, o pequeno exportador, o agronegócio, as cadeias produtivas que podem ruir com uma canetada estrangeira.

Que o Senado reaja, sim. Mas que reaja com ações — e não apenas discursos para os jornais. Que o governo negocie, mas com firmeza. E que a oposição critique, mas sem torcer para o pior, só para ver o circo pegar fogo no governo adversário.

Foto: Fabio Scremin/APPA

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