Margem Equatorial em debate: o petróleo que pode transformar o Norte, mas também ameaçar o futuro do Brasil

 Margem Equatorial em debate: o petróleo que pode transformar o Norte, mas também ameaçar o futuro do Brasil

Na próxima segunda-feira (14), a Comissão de Desenvolvimento Regional (CDR) do Senado Federal promoverá uma audiência pública em São Luís (MA) sobre a exploração de petróleo e gás na Margem Equatorial brasileira — uma faixa do litoral norte que vai do Rio Grande do Norte ao Amapá, passando por áreas de enorme sensibilidade ambiental, incluindo a foz do Rio Amazonas. A pauta, ainda que marcada para o Maranhão, diz respeito a todo o país — e, de forma estratégica, ao Espírito Santo também.

Afinal, o que está em jogo não é apenas mais uma fronteira energética. É o modelo de desenvolvimento que o Brasil quer para si nas próximas décadas.

A audiência, proposta pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA), reunirá representantes da Petrobras, do Ministério de Minas e Energia, da ANP, de entidades civis e da indústria. Um encontro denso, técnico, e necessário — mas que não pode prescindir de um ingrediente essencial: o olhar crítico da sociedade.

Por que isso importa para o Espírito Santo?

O Espírito Santo já sabe o que significa ser território de exploração petrolífera. O Estado viveu, nos últimos anos, uma profunda transformação econômica impulsionada pelo pré-sal da Bacia do Espírito Santo. Geração de empregos, arrecadação de royalties, investimentos em infraestrutura… os impactos são visíveis. Mas também aprendemos — à força — sobre os limites desse tipo de desenvolvimento quando ele não vem acompanhado de regulação rígida, proteção ambiental e diversificação econômica.

A exploração na Margem Equatorial acende luzes vermelhas em relação a esses mesmos pontos. A região concentra biomas únicos, comunidades tradicionais e uma biodiversidade que o mundo inteiro observa com atenção. Trata-se, portanto, de uma nova corrida do ouro negro — só que em áreas ambientalmente frágeis, em um momento histórico em que o mundo cobra mais transição energética e menos dependência de combustíveis fósseis.

O Espírito Santo, por experiência própria, tem autoridade para contribuir com esse debate. Pode — e deve — servir de referência sobre o que funciona e o que precisa ser corrigido quando se explora petróleo sem perder de vista a responsabilidade ambiental e social. Mais que isso: o Estado precisa participar ativamente da discussão sobre a transição energética no país, sobretudo por estar desenvolvendo políticas de energia limpa, como o hidrogênio verde e as fontes renováveis.

Petróleo sim, mas a qualquer custo?

Há quem veja no petróleo da Margem Equatorial uma chance de ouro para o desenvolvimento do Norte e do Nordeste. É um argumento legítimo — desde que acompanhado de garantias. O Brasil não pode repetir erros de outras regiões produtoras, onde a bonança da exploração passou, mas os impactos sociais e ambientais ficaram. Tampouco pode seguir vendendo a ideia de que só o petróleo é capaz de movimentar a economia. O futuro, se queremos tê-lo, está na diversificação, na inovação e na sustentabilidade.

É preciso rigor técnico, transparência, consulta às comunidades afetadas e respeito à ciência. Nenhum barril compensa um desastre ambiental irreversível.

Um debate que interessa a todos

Ainda que geograficamente distante, o Espírito Santo tem muito a dizer e a aprender com essa audiência pública. A Margem Equatorial é a nova fronteira do petróleo, mas também o novo teste da maturidade ambiental e política do país. Participar desse debate, ainda que virtualmente, é um dever de quem compreende que o desenvolvimento não pode andar dissociado da vida.

Que esse encontro sirva, portanto, para mais que defender interesses econômicos. Que seja, acima de tudo, uma oportunidade de repensar prioridades — com coragem, responsabilidade e visão de futuro. Porque petróleo acaba. E os danos, quando não prevenidos, costumam durar muito mais.

 

Foto Pedro Bolle/USP Imagens

 

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